Ações para combater a Intolerância Religiosa no trabalho

Tamiris Hilário, especialista em Sistemas de Crença da Diversitera, compartilha dicas práticas de combate a intolerância.

O Brasil registrou no últimos anos o aumento de denúncias de intolerância religiosa por meio do Disque 100, serviço governamental cujas informações também apontam para a diversificação dos tipos de violência relatadas. Muito embora organizações privadas se afastem do território religioso por considerá-lo complexo, a percepção é que a realidade de funcionários e público consumidor se torna cada vez mais complexa e heterogênea, demandando das empresas instrumentos de gestão que acolham diferenças e colaborem na dissolução de conflitos que delas decorrem, e isso inclui suas crenças.

A intolerância nada mais é que o conjunto de violações à dignidade do outro. “Vale notar que ela não é uma novidade desses tempos. Na história, diferentes populações foram sistematicamente destruídas em razão de suas características étnicas, e sob esse guarda-chuva estão os elementos de fé. Tudo isso porque não houve aceitação social plena das diferenças, o que resultou em grupos estigmatizados, excluídos, segregados, silenciados e violados de diferentes maneiras”, afirma Tamiris Hilário, especialista em Raça e Etnia, da Diversitera.

No ambiente de trabalho, ela geralmente aparece na forma de microagressões, em que os preconceitos são expressos por meio de falas injuriosas e comportamentos discriminatórios, mas que parecem sutis para quem pratica. Afirmar judeus como “pão-duros”, ou muçulmanos como “homens bomba”, ou até mesmo que alguém precisa acreditar em algo são exemplos. Aqui, a intolerância se expressa naqueles gestos banais do dia a dia, como piadas, brincadeiras, insinuações, apelidos, provocações etc., mas que atingem o interlocutor de alguma maneira, resultando em pessoas estressadas, ansiosas, cerceadas e inseguras.

Pensando nisso, no dia nacional de Combate à Intolerância Religiosa, 21/1, a Diversitera, startup de Diversidade e Inclusão, listou um conjunto de ações para combater a intolerância religiosa no ambiente de trabalho.

1# Não tolerar a intolerância — Incluir nas políticas organizacionais pressupostos éticos inegociáveis, que mitiguem ou constranjam comportamentos intolerantes, e orientem a convivência pacífica e não discriminatória. Se possível, estabelecer canais de denúncia seguros para registrar episódios de intolerância.

2# Investir em ações inclusivas — Elas são antídoto contra a intolerância, pois, entre muitos aspectos, estimulam o convívio entre os diferentes e, desse modo, promovem aprendizados importantes sobre respeito. Isso inclui a educação sobre direitos, deveres, cooperação, diálogo intercultural, valores solidários, entre outros. E também o investimento em ativos como a formação de lideranças capazes de reproduzir valores.

3# Cuidar para que seletivas e outras experiências sejam inclusivas — Processos seletivos não devem causar constrangimentos e ou ser influenciados por vieses inconscientes, o que pode ser solucionado com critérios previamente definidos.

4# Observar necessidades específicas dos colaboradores — Muitas vezes pessoas de religiões específicas têm necessidades particulares, como os Adventistas, que respeitam certos dias da semana; os Muçulmanos, que têm horários determinados para orações; os Candomblecistas e Judeus que não consomem alguns tipos de alimentos etc.

5# Ressignificar datas — Vale uma reflexão interna sobre marcos celebrativos que se alinham somente a uma perspectiva, geralmente cristã. Por que a empresa celebra o Natal e a Páscoa, mas não exaltam outros momentos referentes a outras religiões? 

6# Verificar o código de vestimenta (dress code) da empresa — Ele respeita a diversidade religiosa? Permite o uso de acessórios como hijabs e guias? Adaptá-lo, se necessário.

7# Promovendo experiências de imersão sociocultural — Que tal ouvir o que um babalorixá tem a dizer? Ou visitar uma sinagoga? Ou incluir atributos da cultura árabe no cardápio de uma celebração?

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